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Gestão Humanizada: o valor humano como estratégia de negócio
Gestão humanizada é mais do que tendência é estratégia de negócios. Entenda por que empresas que priorizam o bem-estar têm mais lucros, engajamento e retenção de talentos
Por Bárbara Kemp, fundadora da Kemp, empresa de projetos e gerenciamento de obras.
Muito antes de “felicidade no trabalho” virar pauta de ESG ou figurar nos relatórios de sustentabilidade, eu, como gestora, já tratava o bem-estar das pessoas como uma alavanca estratégica — não por romantismo, mas por pragmatismo. Afinal, nenhuma empresa cresce de forma sustentável sem cuidar de quem faz o dia a dia acontecer.
Hoje, os dados apenas confirmam o que a prática já nos ensinava: colaboradores felizes entregam mais, permanecem por mais tempo e se conectam genuinamente ao propósito da organização. O relatório Randstad Workmonitor 2024 mostra que 30% dos trabalhadores brasileiros considerariam deixar seus empregos se não enxergassem perspectivas de crescimento e um ambiente acolhedor. Já o Great Place to Work aponta que empresas com culturas de alta confiança — base da gestão humanizada — apresentam turnover de 28%, contra 56% da média geral.
Retenção de talentos como diferencial competitivo
Essa mudança de mentalidade se intensifica diante do cenário atual. Segundo a 30ª edição do Índice de Confiança Robert Half (2025), a retenção de talentos assumiu o topo das preocupações de gestão, superando produtividade e lucratividade. Em um mercado de pleno emprego entre profissionais qualificados — com apenas 3% de desemprego nesse grupo —, reter talentos tornou-se uma questão de sobrevivência competitiva. E retenção, vale lembrar, vai muito além de salário: 90% das empresas reconhecem o desenvolvimento de lideranças empáticas como fator decisivo.
Essas tendências não são novidade para quem acompanha de perto as transformações da gestão na construção civil. Algumas empresas optaram, desde sua fundação, por fazer diferente: formar times coesos, guiados por valores, ética e propósito — com a convicção de que o técnico se ensina, mas o que importa mesmo é a essência de quem chega.
Cultura organizacional que inspira pertencimento
Algumas iniciativas têm se mostrado especialmente importantes para fortalecer o sentimento de pertencimento dentro das organizações. É o caso da criação de grupos internos de voluntariado corporativo, voltados à integração, bem-estar e ações sociais. Há também empresas que desenvolvem seus próprios índices de clima organizacional focados na felicidade interna, com o objetivo de valorizar a escuta ativa, o reconhecimento e a participação de todos na construção da cultura corporativa.
Os reflexos aparecem nos vínculos duradouros com profissionais com 10, 15 anos de casa, algo raro no setor da construção civil.
Coerência e clareza: pilares da liderança humanizada
Uma gestão humanizada não se sustenta em ações pontuais. O que realmente consolida uma cultura sólida é a coerência entre discurso e prática. Iniciativas como universidades corporativas e ferramentas de gestão com rastreabilidade, clareza e autonomia têm se mostrado fundamentais para que cada colaborador compreenda seu papel com responsabilidade e propósito.
Outro ponto estratégico é a inclusão geracional. Segundo a PNAD Contínua/IBGE (2º trimestre de 2024), mais da metade da força de trabalho brasileira tem 40 anos ou mais. Em algumas organizações, essa diversidade de faixas etárias tem sido ativamente incentivada. Profissionais sêniors agregam maturidade; os mais jovens, inovação. Quando há escuta e respeito mútuo, o resultado é um ambiente plural, produtivo e cooperativo.
Liderar com humanidade é liderar com impacto
Nunca quis ser “a chefe”. Sempre me vi como alguém que coordena e caminha junto. O que me inspirou foi justamente tudo aquilo que não foi legal nos lugares por onde passei. Aqui, se alguém erra, erra a empresa. E se a equipe perde um cliente, o impacto é de todos. A transparência é parte da nossa cultura.
Ver um colaborador prosperar é o que mais me emociona. Alguns caminham conosco por anos, outros seguem outros rumos. Mas todos saem com algo que a gente leva muito a sério: respeito pela pessoa.
Dados que comprovam: a gestão humanizada é o futuro
A ciência reforça esse caminho. Um estudo da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP), divulgado no blog da Coodesh, revelou que empresas com gestão humanizada têm lucros duas vezes maiores e satisfação interna três vezes superior à média das gestões tradicionais.
Já uma pesquisa da Deloitte com a Harvard Business Review mostrou que companhias com práticas consistentes de feedback aumentam a retenção em 24%, a produtividade em 15% e reduzem o turnover em até 35%.
Minha trajetória como gestora é movida pelo desejo de fazer diferente. De ser a líder que eu gostaria de ter tido: alguém que olha para o colaborador como ser humano, não como recurso descartável. Mesmo diante da pressão do setor, seguimos crescendo com um time que se reconhece na empresa — e que escolhe ficar porque sente que faz parte de algo maior.
Felicidade no trabalho não é utopia. É estratégia. E mais do que isso: é uma vantagem competitiva real.